sábado, 24 de janeiro de 2009

Qual é a alternativa?



Rui Grilo

Geralmente, quando corrigimos uma dissertação, um dos erros mais graves é a generalização. Em um texto do Sidney Borges, ele diz: “Comunistas gostam de ditaduras”. Há comunistas e comunistas. Melhor dizendo, não há comunistas porque o ser humano é sempre imperfeito e sujeito a erros, paixões, desejos, nobres e baixos sentimentos.

Para mim, o comunismo é um ideal que orienta a ação no aperfeiçoamento do mundo e das pessoas. É a luta por um mundo mais eqüitativo, onde, pelo menos o básico não falte a ninguém. O que se tem de direitos e de distribuição mais eqüitativa foi conseguido através de muita luta. A face “nobre e humana” da democracia capitalista podem ser vistas, como exemplo, nos filmes “Daens” e “Germinal”.

O contrário do comunismo é o capitalismo que tem como símbolo e exemplo a sociedade americana. E o próprio Sidney diz: “desconfio dos Estados Unidos, país que não tem amigos, apenas interesses.”

Também diz: “ Obama encarna a esperança de dias melhores, mas certamente deve cuidar da segurança. Não faltarão malucos tentando matá-lo. Sempre é bom lembrar que o sucesso de Roosevelt veio na esteira da guerra. A economia prosperou, houve pleno emprego e foram criados poderosos grupos de fabricantes de armamentos. Hoje eles dão as cartas, só sobrevivem se houver novas guerras. Se não há motivo para guerrear eles inventam um e a vida continua.” Então, no capitalismo, hoje chamado de neoliberalismo, para se ter lucro não importa se morrem e se perdem muitas vidas humanas. Quem aponta para uma sociedade diferente dessa que aí está é perigoso e por isso não pode sobreviver.

Uma das ditaduras mais violentas, a de Pinochet, certamente não era comunista e foi financiada pelos Estados Unidos, muito bem retratada no filme “Missing – O Desaparecido”.

Com sua verve e ironia, o Sidney diz que se for implantada a ditadura a ditadura do proletariado quer ir embora.

Tal como fez o Fernando Henrique, o Serra e muitos outros membros de diferentes partidos, inclusive do PT. Um dos que ficaram e que teve um papel muito importante na articulação da luta contra a ditadura foi justamente o Lula, que foi preso. Outros “comunistas” – Santo Dias, Manoel Fiel, Wladimir Herzog, Lamarca, Marighela - foram assassinados. Então, não há razão para os comunistas gostarem de ditaduras.

Raul Jungman, que foi ministro de FHC afirmou: “ Sabem os sem-terra que a alternativa real a Lula é o PSDB, pois eles não têm alternativa política ao que "está aí". Pelo que conheço do MST, pois recebo seus boletins e fui assinante de sua revista, sei que há muitas críticas e divergências com o governo Lula, como aparece nessa fala de João Paulo Rodrigues, da liderança nacional do MST: “ O presidente Lula diz por aí que ele é um aliado dos sem-terra. E também que é aliado dos latifundiários e do agronegócio. Então ele não é amigo de ninguém, ele é amigo dele mesmo. Ele não é nosso inimigo, mas também não é nosso amigo.”. Mas ser o PSDB a saída não tem qualquer fundamento, a não ser como provocação como ele faz nessa afirmação: “Já João Pedro Stédile, quem diria, de incendiário e revolucionário no governo FHC virou barnabé no governo do camarada Lula.”

Como todas pessoas minimamente esclarecidas sabem, Lula, no papel de presidente não está como amigo, mas como autoridade para atender a todos indistintamente de acordo com as normas legais. Para poder governar sem levar a crises e retrocessos, Lula é sujeito à pressões de todos os lados, obrigado a negociar até com quem era adversário. É um jogo de forças onde, às vezes se ganha e às vezes se perde. Num país onde predominavam os interesses dos compadres, de quem tinha o poder, é difícil mudar costumes arraigados daqueles que se beneficiam, se apropriam dos bens públicos em seu próprio benefício.

Há muita gritaria contra os programas sociais como o bolsa família que comprovadamente redistribui renda, mas não há o mesmo protesto quando as firmas solicitam ajuda do governo chantageando-o com a ameaça de demissões em massa.

Hoje, não existe uma ameaça de ditadura do proletariado, mas uma ditadura econômica porque os meios de comunicação de massa estão na mão de poucos grupos que manipulam as notícias e as informações formando as mentalidades. Ao mesmo tempo em que há uma ação policial constante contra as rádios comunitárias, não há a mesma fiscalização das grandes redes que não cumprem as normas constitucionais no que se refere às comunicações.

Quem ainda não viu, recomendo os documentários “A Guerra dos Cocos” e “A Corporação”.

Rui Grilo
ragrilo@terra.com.br

Fonte: http://www.ubatubavibora.blogspot.com/

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