Sidney Borges
Respondendo à pergunta do professor Rui Grilo, vou analisar os parágrafos do texto publicado abaixo e responder, pois a pergunta é sem dúvida a melhor parte do texto.
Geralmente, quando corrigimos uma dissertação, um dos erros mais graves é a generalização. Em um texto do Sidney Borges, ele diz: “Comunistas gostam de ditaduras”. Há comunistas e comunistas. Melhor dizendo, não há comunistas porque o ser humano é sempre imperfeito e sujeito a erros, paixões, desejos, nobres e baixos sentimentos.
Vamos lá. O professor se arvora o direito de corrigir o meu texto dizendo que há uma generalização. Eu escrevi que comunistas gostam de ditaduras. Está errado? A história está errada? As ditaduras comunistas não existiram, foi invenção da imprensa capitalista? O Muro de Berlim, com seus 400 quilômetros foi um presente à cidade, um enfeite? Foi erguido para impedir que os capitalistas pudessem desfrutar das delícias do paraíso? Dou a mão à palmatória, comunistas não gostam de ditadura, apenas fingem que gostam.
Para mim, o comunismo é um ideal que orienta a ação no aperfeiçoamento do mundo e das pessoas. É a luta por um mundo mais eqüitativo, onde, pelo menos o básico não falte a ninguém. O que se tem de direitos e de distribuição mais eqüitativa foi conseguido através de muita luta. A face “nobre e humana” da democracia capitalista podem ser vistas, como exemplo, nos filmes “Daens” e “Germinal”.
Tenho o maior respeito por idealistas. Quase sempre mostram boas intenções e disposição de matar pelos ideais. Pol Pot é um exemplo. Tomou o poder com seus camaradas do Kmer Rouge com a intenção de reformular a sociedade burguesa do Cambodja e implantar os verdadeiros ideais do comunismo. Dois milhões de mortos depois o país entrou em colapso e retrocedeu 100 anos.
O contrário do comunismo é o capitalismo que tem como símbolo e exemplo a sociedade americana. E o próprio Sidney diz: “desconfio dos Estados Unidos, país que não tem amigos, apenas interesses.”
Como o professor pode ver, não sou binário, não acredito em certo e errado, branco e preto, alto e baixo. Entre os extremos há as nuances do cinza, milhares delas. Mas é preciso deixar claro que se me fosse oferecido exílio eu preferiria Nova Iorque à Havana. Penso que o professor logicamente preferiria Havana. Na minha modesta opinião é melhor deixar o paraíso para depois da morte.
Também diz: “ Obama encarna a esperança de dias melhores, mas certamente deve cuidar da segurança. Não faltarão malucos tentando matá-lo. Sempre é bom lembrar que o sucesso de Roosevelt veio na esteira da guerra. A economia prosperou, houve pleno emprego e foram criados poderosos grupos de fabricantes de armamentos. Hoje eles dão as cartas, só sobrevivem se houver novas guerras. Se não há motivo para guerrear eles inventam um e a vida continua.” Então, no capitalismo, hoje chamado de neoliberalismo, para se ter lucro não importa se morrem e se perdem muitas vidas humanas. Quem aponta para uma sociedade diferente dessa que aí está é perigoso e por isso não pode sobreviver.
Mino Carta diria que até o mundo mineral tem conhecimento de que minhas palavras só reafirmaram o que qualquer cidadão de cultura mediana sabe. A guerra salvou o capitalismo americano. Também é bom deixar claro que prefiro fazer sopa em casa a comprar uma lata de Campbel’s no supermercado. O fato de não gostar do comunismo não me lança nos braços do “american way of life”, que abomino. Como pode ver o professor, não aprovo o neoliberalismo, meu QI impede adesão a qualquer dogma. Mas deixo bem claro que não gosto do comunismo.
Uma das ditaduras mais violentas, a de Pinochet, certamente não era comunista e foi financiada pelos Estados Unidos, muito bem retratada no filme “Missing – O Desaparecido”.
Concordo com o professor quanto à estupidez de Pinochet e sobre o financiamento da ditadura chilena. Só não sei onde o comentário se encaixa no meu texto, em momento algum eu manifestei apreço por ditaduras, conheci as masmorras da ditadura militar exatamente por me colocar contra ela, procure o meu nome entre os presos do regime de 1964. Está lá, bem claro. Não gosto de ditaduras de direita. Nem de esquerda.
Com sua verve e ironia, o Sidney diz que se for implantada a ditadura a ditadura do proletariado quer ir embora.
A resposta está colocada acima. Sou contra as ditaduras. Se houver a tão almejada ditadura do proletariado vou-me embora, sou pacifista, jamais matarei por divergências ideológicas. Minha vida foi pautada para não haver grilhões que me prendessem, não tenho propriedades, sou contra a propriedade desnecessária, tenho apenas uma casa e um carro velho. Se acontecer a ditadura do proletariado tiro o time de campo.
Tal como fez o Fernando Henrique, o Serra e muitos outros membros de diferentes partidos, inclusive do PT. Um dos que ficaram e que teve um papel muito importante na articulação da luta contra a ditadura foi justamente o Lula, que foi preso. Outros “comunistas” – Santo Dias, Manoel Fiel, Wladimir Herzog, Lamarca, Marighela - foram assassinados. Então, não há razão para os comunistas gostarem de ditaduras.
Não vou discutir o que fizeram Fernando Henrique, Serra e outros citados. Cada cabeça uma sentença, mas no lugar do Serra, líder estudantil que incomodou até o governo de João Goulart, eu também teria ido embora. A repressão foi implacável, torturou e matou. Não quero acreditar que o professor tenha tido a intenção de colocar a coisa em termos ideológicos e dizer que Serra e FHC são de direita. Quanto a não haver razão para os comunistas gostarem de ditaduras, é uma falácia. Faço um desafio. Mostre-me um país comunista onde houve democracia e direito de ir e vir. Um único, com partidos livres, de amplo espectro ideológico e eleições com alternância no poder.
Raul Jungman, que foi ministro de FHC afirmou: “ Sabem os sem-terra que a alternativa real a Lula é o PSDB, pois eles não têm alternativa política ao que "está aí". Pelo que conheço do MST, pois recebo seus boletins e fui assinante de sua revista, sei que há muitas críticas e divergências com o governo Lula, como aparece nessa fala de João Paulo Rodrigues, da liderança nacional do MST: “ O presidente Lula diz por aí que ele é um aliado dos sem-terra. E também que é aliado dos latifundiários e do agronegócio. Então ele não é amigo de ninguém, ele é amigo dele mesmo. Ele não é nosso inimigo, mas também não é nosso amigo.”. Mas ser o PSDB a saída não tem qualquer fundamento, a não ser como provocação como ele faz nessa afirmação: “Já João Pedro Stédile, quem diria, de incendiário e revolucionário no governo FHC virou barnabé no governo do camarada Lula.”
Sobre alternância, quem decide são as urnas. Votei no Lula em 1989, depois votei em FHC e no Serra e votarei novamente no Serra em 2010. Viva a democracia.
Como todas pessoas minimamente esclarecidas sabem, Lula, no papel de presidente não está como amigo, mas como autoridade para atender a todos indistintamente de acordo com as normas legais. Para poder governar sem levar a crises e retrocessos, Lula é sujeito à pressões de todos os lados, obrigado a negociar até com quem era adversário. É um jogo de forças onde, às vezes se ganha e às vezes se perde. Num país onde predominavam os interesses dos compadres, de quem tinha o poder, é difícil mudar costumes arraigados daqueles que se beneficiam, se apropriam dos bens públicos em seu próprio benefício.
No Brasil mudaram os compadres, mas o poder continua em mãos de poucos. Nunca os ricos enriqueceram tanto. Mudaram os compadres? Sarney mudou?
Há muita gritaria contra os programas sociais como o bolsa família que comprovadamente redistribui renda, mas não há o mesmo protesto quando as firmas solicitam ajuda do governo chantageando-o com a ameaça de demissões em massa.
Sou favorável aos programas sociais, acredito que devam ser ampliados. Acabar com o desnível econômico seria uma forma do país adentrar ao capitalismo. Lula tem o meu apoio nessa luta. Gosto do Lula, sempre gostei, fez um bom trabalho na presidência. Mas está na hora de sair. São as nuances da democracia. Viva a democracia.
Hoje, não existe uma ameaça de ditadura do proletariado, mas uma ditadura econômica porque os meios de comunicação de massa estão na mão de poucos grupos que manipulam as notícias e as informações formando as mentalidades. Ao mesmo tempo em que há uma ação policial constante contra as rádios comunitárias, não há a mesma fiscalização das grandes redes que não cumprem as normas constitucionais no que se refere às comunicações.
Ditaduras são sempre um mal, qualquer que seja a cor que ostentem. Dão privilégios a grupos em detrimento da maioria. Mas isso é coisa do estágio de desenvolvimento do ser humano. Como adepto de Darwin acredito estarmos em processo evolutivo.
Quem ainda não viu, recomendo os documentários “A Guerra dos Cocos” e “A Corporação”.
Comentário final. Ganho a vida como escritor de roteiros. Recomendo aos leitores que tenham cautela com a realidade cinematográfica.
A solução professor Grilo, é a Democracia. "Ruim com ela, pior sem ela."
Fonte: http://www.ubatubavibora.blogspot.com/
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