quinta-feira, 25 de setembro de 2008

"Região é um dos locais que abastece a rota de tráfico de mulheres que passa pela Dutra", afirma ONG

Talita Fernanda

Litoral Norte

Ontem, ONGS e autoridades envolvidas na defesa da mulher, do adolescente e da criança lembraram o Dia Mundial de Combate ao Tráfico de Mulheres, Adolescentes e Crianças. Em entrevista exclusiva ao Imprensa Livre, a jornalista e ativista da Ong Serviço à Mulher Marginalizada (SMM), Priscila Siqueira, falou sobre o panorama atual de tráfico de mulheres no país.

A Polícia Civil de Caraguatatuba fechou uma zona de prostituição, que funcionava sob a fachada de casa de massagem há duas semanas. O lugar, localizado na rua Benedito Roque dos Santos Filho, no Pontal Santa Marina, abrigava meninas trazidas de Alagoas, com a promessa de emprego e moradia em troca do trabalho em um instituto de beleza como massagistas. Segundo a polícia, ao chegarem na cidade elas tinham sua liberdade restrita, sem permissão nem para fazer suas refeições, que eram realizadas em marmitas. Sem dinheiro para retornar, as garotas eram obrigadas a se prostituírem. Durante a operação, M.S.S., 29 anos, foi presa por ser suspeita de trazer estas mulheres, com as falsas promessas. A Polícia Civil de Caraguatatuba informa que as investigações sobre o caso prosseguem.

De acordo com Priscila Siqueira, Pesquisa do Tráfico (Pestraf), realizada em 2003, liderada pela Ong Cecria (Centro de Referência de Estudos de Crianças e Adolescentes) da Universidade de Brasília, mostra que há uma rota de tráfico entre Rio de Janeiro e São Paulo que passa pela Dutra e se abastece de crianças do Litoral Norte de São Paulo, do Sul de Minas Gerais e Vale do Paraíba.

"O Litoral Norte já é mapeado há muito tempo, por um mapa nacional feito pelo Governo Federal com o apoio da Polícia Rodoviária Federal, como uma região onde se buscam meninas e mulheres para o tráfico", avalia ao lembrar que o caso acima é específico já que se trata da vinda de mulheres para cá. Priscila destaca que o Brasil é o maior exportador de mulheres e meninas; local de trânsito, já que latino-americanas que vão para a Europa passam um tempo trabalhando aqui e, no momento, tornou-se um país também recebedor; já que, em fevereiro deste ano, recebeu uma "importação" de mulheres da Coréia para atender os coreanos do Bom Retiro. "Então, quando falamos em tráfico de mulheres, no Brasil temos uma situação muito complexa, pois além da `exportação´ e `importação´, temos também o tráfico interno", avalia.

De acordo com Priscila, pela Pestraf, mulheres que são levadas para fora têm em torno de 15 a 30 anos e há uma preferência pelas afro-descendentes e jovens; já para o tráfico interno, crianças. "No filme `Anjos do Sol´, um homem comprava uma menina não pela idade, mas pelo tanto de carne que tinha para morder e beliscar. É uma coisa muito perversa. Aliás, a ONU considera o tráfico como o maior desrespeito ao ser humano, porque você perde sua capacidade de ser gente e vira uma mercadoria. Você quer uma coca-cola ou um guaraná? Você quer uma mulata ou uma menina loira do Sul do Brasil?", enfatiza a jornalista.

Por esta razão, ela considera este tipo de agressão contra mulher muito maior do que a violência doméstica, já que alguém comprou estas meninas e elas passam a ser como um carro, que não pode ser roubado, ou algo que tem que dar lucro. "Por isso a violência cometida contra elas é muito grande", conclui. Quanto às regiões que mais abastecem o tráfico, ela destaca o nordeste brasileiro e o Centro Oeste, pelo biotipo das mulheres de lá, que lembram índias. No entanto, a maioria delas passa por São Paulo e sai pelo Aeroporto de Guarulhos. A classe social mais vulnerável é a que está atrás de emprego e não encontra oportunidades. "Nem toda prostituta que vai para fora vai traficada. Só somos contra a perda da liberdade. Temos um material que dá dicas quanto a isso: não deixe seu passaporte com ninguém; aprenda um pouco da língua do país em que você vai; não perca o contato com a sua família e nem com o Consulado Brasileiro. Para ela poder se defender em alguma situação extrema. Porque é como a polícia diz: `Elas são maiores de idade e tem passaporte, nós não temos como impedir´", observa Priscila.

Ainda de acordo com ela, a Ong Internacional Unânima mostrou em uma pesquisa que uma garota levada gratuitamente do Rio de Janeiro ou de São Paulo até Madri, precisa pagar as despesas obtidas com 4.500 programas sexuais para poder sanar suas dívidas. "Sem condições de se pagar isso em uma semana, um mês ou um ano, somando-se ainda as despesas deixadas no lugar; torna-se um trabalho escravo igual ao do homem da fazenda que só permite que seus trabalhadores consumam na vendinha do local", destaca Priscila. A jornalista destaca que a Ong realiza trabalho de prevenção contra este o tráfico de mulheres, crianças e adolescentes em escolas, mas lamenta que este é um tipo de crime ainda muito pouco divulgado pela mídia em geral.

Fonte: http://www.imprensalivre.com/ - 4/9/2008 8:41


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