A
aprovação recente do Plano Nacional de Resíduos Sólidos e a mobilização do
Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis trouxe condições
mais favoráveis aos catadores reconhecendo a importância de sua ação
para a preservação de matérias primas e para o meio ambiente tornando obrigatória a coleta seletiva e
disponibilizando recursos para a implantação de propostas que garantam maior
sustentabilidade e a inclusão dos catadores.
Para isso
foi necessário a elaboração de novas leis para superar o emaranhado jurídico e
burocrático que dificultava a parceria entre o poder público e os catadores.
No
entanto, essa parceria só pode ser efetivada com grupos organizados em forma de
cooperativa. Para isso, a Cooperativa Central de Catadores e Catadoras de Materiais Recicláveis do Grande
ABC – Coopcent ABC, localizada em Diadema, conseguiu um financiamento do
Governo Federal, através do Ministério de Trabalho e Emprego em parceria com a
Petrobras e as prefeituras da região para desenvolver o Projeto Fortalecimento
dos Catadores e Catadoras e Ampliação da Coleta Seletiva do Grande ABC.
Participei
desse projeto como um dos membros da
equipe responsável pela formação dos
catadores devido a minha experiência com educação de adultos e por ter
participado do curso de multiplicadores da Incubadora de Cooperativas da USP.
Só aceitei o convite para participar porque queria aprender mais sobre a
questão e adquirir experiência para uma
possível aplicação aqui em Ubatuba.
Neste
momento há um grupo que pretende rearticular uma cooperativa desativada e está
organizando várias reuniões em diferentes bairros. Tenho alertado o grupo de
que se não houver um trabalho de relações humanas para fortalecer o vínculo entre
os participantes aumentando a confiança e o respeito mútuos, nenhuma
cooperativa irá para a frente.
É
necessário um trabalho de escuta dos catadores porque são eles que possuem a
experiência prática e que devem ser valorizados. É uma atividade complexa que
requer planejamento e articulação entre vários setores e profissionais.
No
Ipiranguinha, houve dois depoimentos muito interessantes. Um catador ressaltou
a necessidade de ganhar o respeito e o apoio da população. Para isso não pode
ter atitudes que contribuam para sujar ruas e avenidas provocando risco de
doenças e inundações. Não pode abrir os sacos de lixo para pegar os materiais
recicláveis e espalhar o lixo molhado na rua. Outro relato foi de uma catadora.
Ao tentar retirar o lixo reciclável, a moradora disse para ela não mexer nos
saquinhos. A catadora argumentou que com seu trabalho só estava ajudando. A
mulher ameaçou chamar a polícia. A catadora falou para ela chamar e se sentou
na calçada para esperar.
Depois
de um tempo, a moradora vendo-a sentada na calçada perguntou:
-
A senhora está ainda aí?
-
A senhora não disse que ia chamar a polícia? Estou esperando.
Pensando
melhor, a moradora disse à catadora que poderia pegar o material reciclável e
daí em diante se tornou uma grande colaboradora.
Na
verdade, o catador vem exercendo uma das atividades mais importantes e com
melhores resultados na questão da educação ambiental da população, o que por si
só justifica o investimento que o Governo Federal e muitas prefeituras vem
fazendo na articulação e apoio à formação de cooperativas de catadores.
Assessoria de Imprensa do PT de
Ubatuba – 23/03/2013
Texto de Rui Grilo – ragrilo@terra.com.br
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