Em debate sobre o tema, projeto Nova Luz é criticado, assim como outras operações urbanas, por não priorizar moradia popular
Kazuo Nakano, Roberto Araújo, Paula Ribas, Zarattini e Fernando Haddad debatem moradia e especulação imobiliária (Foto: Fora do Eixo) |
Segundo os participantes da mesa, esse “câncer” é um dos grandes
problemas relacionados à terra urbana atualmente, em especial nas
grandes cidades. “A terra urbana é um produto social, fruto de um
trabalho econômico coletivo, de investimentos públicos, desde a
terraplanagem até a implantação de serviços de esgoto e eletricidade”,
explicou o arquiteto e urbanista Kazuo Nakano, do Instituto Pólis. Já a
especulação imobiliária, conforme Nakano, “é quando grupos poderosos se
apropriam da terra urbana em benefício próprio”. “Assim, as melhores
terras urbanas só vão estar disponíveis para quem tem mais dinheiro,
quem não tem vai ficar com espaços urbanos mais distantes e que nem
estão completamente urbanizados”, ressaltou.
O ex-ministro da Educação Fernando Haddad foi convidado para se
juntar à mesa, e concordou com o urbanista. “Infelizmente a terra
urbana, hoje, é cada vez mais um bem de luxo”, comentou. Para ele, a
especulação imobiliária é talvez o maior drama das grandes cidades
atualmente. “Por falta de uma política habitacional adequada, a
população está sendo levada para lugares cada vez mais distantes dos
equipamentos públicos e do convívio social, o que faz se perder o
sentido de se morar na cidade, que é aproveitar o que o espaço urbano
pode oferecer”, disse.
Segundo o deputado federal Carlos Zarattini (PT), “os lucros do setor
imobiliário hoje são gigantescos”, já atraindo fundos de investimentos
nacionais e internacionais. Com a terra urbana se tornando alvo do
mercado financeiro, um lugar para morar é cada vez mais caro. No caso de
São Paulo, o custo do metro quadrado de imóveis na cidade teve alta de
26,4% nos últimos 12 meses, conforme dados divulgados na sexta, 3, pelo
índice FipeZap.
“Com o alto custo, a possibilidade das pessoas terem acesso à moradia
de qualidade em regiões que tenham infraestrutura adequada para se
viver é cada vez mais difícil”, disse Zarattini. De acordo com ele,
durante o governo de Marta Suplicy em São Paulo, foram criadas as Zonas
de Interesse Social (Zeis) no plano diretor da cidade. No entanto, em
sua opinião, “nos governos Serra e Kassab o plano acabou sendo alterado e
está servindo à especulação imobiliária”. Ainda segundo o deputado,
somente 13 mil moradias foram financiadas pelo programa federal Minha
Casa, Minha Vida na capital paulista, número insignificante perto do
tamanho da cidade e a quantidade de pessoas sem-teto.
Projeto Nova Luz continua suspenso pela Justiça (Foto: Blog São Paulo Urgente) |
“Hoje temos várias operações urbanas em andamento e várias outras em
estudo, como a Jacu Pêssego, a Celso Garcia, a diagonal sul e norte, a
Operação Vila Sônia e do Piritubão, a última área livre na zona Oeste”,
destacou Zarattini. Porém, as operações não prevêem projetos de moradia
popular.
Residente do centro da capital desde que nasceu, a jornalista Paula
Ribas tem atuado contra a Operação Nova Luz. Atualmente, ela preside a
Associação de Moradores e Amigos da Santa Ifigênia e Luz (Amoaluz) e é
conselheira da Zeis da Santa Ifigênia. “Com muita pressão, conseguimos
com que a prefeitura abrisse o que já estava previsto no plano diretor,
as Zeis”, explicou. Dos 45 quarteirões do Projeto Nova Luz, 11 deles são
destinados às Zeis, que contemplem moradias para pessoas de até três
salários mínimos.
De acordo com ela, quando o projeto Nova Luz foi
desenvolvido não previa investimento público. “Hoje, segundo a FGV, o
projeto está avaliado em R$ 600 milhões em investimento por parte da
prefeitura. Temos que pensar o que queremos fazer com nosso dinheiro,
porque ele é nosso”, disse. No momento, o projeto Nova Luz está suspenso
pela Justiça.
Postado pela Assessoria de Imprensa - 25/02/2012
Fonte: SPresso SP /Por Adriana Delorenzo e Mario Henrique de Oliveira
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