sábado, 25 de fevereiro de 2012

Ativista diz que especulação imobiliária é um “câncer na sociedade”


Em debate sobre o tema, projeto Nova Luz é criticado, assim como outras operações urbanas, por não priorizar moradia popular

Kazuo Nakano, Roberto Araújo, Paula Ribas, Zarattini e Fernando Haddad debatem moradia e especulação imobiliária (Foto: Fora do Eixo)
Enquanto o debate sobre especulação imobiliária e direito à moradia acontecia no lançamento do SPressoSP, no sábado, 7, um grupo de 230 famílias acampava na Av. São João. Eles estavam morando num prédio na famosa esquina de São Paulo, com a Av. Ipiranga, quando foram despejados na última sexta, 3. Eles permanecem nas calçadas, em protesto por programas habitacionais. “Desocupações como a da São João e do Pinheirinho, mais do que reintegração de posse, é uma desintegração da dignidade”, disse Roberto Araújo, representante do Movimento Luz Livre. Para ele, a especulação imobiliária “é um câncer na sociedade”.

Segundo os participantes da mesa, esse “câncer” é um dos grandes problemas relacionados à terra urbana atualmente, em especial nas grandes cidades. “A terra urbana é um produto social, fruto de um trabalho econômico coletivo, de investimentos públicos, desde a terraplanagem até a implantação de serviços de esgoto e eletricidade”, explicou o arquiteto e urbanista Kazuo Nakano, do Instituto Pólis. Já a especulação imobiliária, conforme Nakano, “é quando grupos poderosos se apropriam da terra urbana em benefício próprio”. “Assim, as melhores terras urbanas só vão estar disponíveis para quem tem mais dinheiro, quem não tem vai ficar com espaços urbanos mais distantes e que nem estão completamente urbanizados”, ressaltou.

O ex-ministro da Educação Fernando Haddad foi convidado para se juntar à mesa, e concordou com o urbanista. “Infelizmente a terra urbana, hoje, é cada vez mais um bem de luxo”, comentou.  Para ele, a especulação imobiliária é talvez o maior drama das grandes cidades atualmente. “Por falta de uma política habitacional adequada, a população está sendo levada para lugares cada vez mais distantes dos equipamentos públicos e do convívio social, o que faz se perder o sentido de se morar na cidade, que é aproveitar o que o espaço urbano pode oferecer”, disse.

Segundo o deputado federal Carlos Zarattini (PT), “os lucros do setor imobiliário hoje são gigantescos”, já atraindo fundos de investimentos nacionais e internacionais. Com a terra urbana se tornando alvo do mercado financeiro, um lugar para morar é cada vez mais caro. No caso de São Paulo, o custo do metro quadrado de imóveis na cidade teve alta de 26,4% nos últimos 12 meses, conforme dados divulgados na sexta, 3, pelo índice FipeZap.

“Com o alto custo, a possibilidade das pessoas terem acesso à moradia de qualidade em regiões que tenham infraestrutura adequada para se viver é cada vez mais difícil”, disse Zarattini. De acordo com ele, durante o governo de Marta Suplicy em São Paulo, foram criadas as Zonas de Interesse Social (Zeis) no plano diretor da cidade. No entanto, em sua opinião, “nos governos Serra e Kassab o plano acabou sendo alterado e está servindo à especulação imobiliária”. Ainda segundo o deputado, somente 13 mil moradias foram financiadas pelo programa federal Minha Casa, Minha Vida na capital paulista, número insignificante perto do tamanho da cidade e a quantidade de pessoas sem-teto.


Projeto Nova Luz continua suspenso pela Justiça (Foto: Blog São Paulo Urgente)

“Hoje temos várias operações urbanas em andamento e várias outras em estudo, como a Jacu Pêssego, a Celso Garcia, a diagonal sul e norte, a Operação Vila Sônia e do Piritubão, a última área livre na zona Oeste”, destacou Zarattini. Porém, as operações não prevêem projetos de moradia popular.

Residente do centro da capital desde que nasceu, a jornalista Paula Ribas tem atuado contra a Operação Nova Luz. Atualmente, ela preside a Associação de Moradores e Amigos da Santa Ifigênia e Luz (Amoaluz) e é conselheira da Zeis da Santa Ifigênia. “Com muita pressão, conseguimos com que a prefeitura abrisse o que já estava previsto no plano diretor, as Zeis”, explicou. Dos 45 quarteirões do Projeto Nova Luz, 11 deles são destinados às Zeis, que contemplem moradias para pessoas de até três salários mínimos. 

De acordo com ela, quando o projeto Nova Luz foi desenvolvido não previa investimento público. “Hoje, segundo a FGV, o projeto está avaliado em R$ 600 milhões em investimento por parte da prefeitura. Temos que pensar o que queremos fazer com nosso dinheiro, porque ele é nosso”, disse. No momento, o projeto Nova Luz está suspenso pela Justiça.


Postado pela Assessoria de Imprensa - 25/02/2012
Fonte: SPresso SP /Por Adriana Delorenzo e Mario Henrique de Oliveira

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