sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Transbordo do lixo: um problema enorme. Jamais uma solução adequada!



Maurício Moromizato

Temporada boa, dinheiro entrando na cidade. Os empresários e trabalhadores do turismo relatam que estão sendo beneficiados em parte pela crise mundial, quando turistas não viajaram para o exterior e vieram para o litoral de São Paulo; e em parte pela catástrofe ambiental que acometeu o Sul do Brasil fazendo turistas que normalmente iriam para o Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina virem para o nosso litoral, haja vista o grande número de carros e turistas falando espanhol, por exemplo.

Em economia, isso significa que estamos produzindo e exportando nossas atrações, nossa geografia, recebendo dinheiro externo em troca, proporcionando aumento da riqueza municipal. É a indústria do turismo mostrando seu potencial. Vamos tirar lição dessa rica temporada para preparar Ubatuba a sempre ser atrativa, independentemente de crise mundial e catástrofes ambientais. Senhor Secretário de Turismo: Plano Municipal de Turismo urgente! Junto com um Projeto de desenvolvimento municipal. Todos construídos com muita participação popular e debates democráticos.

Mas essa conta pode começar brevemente a se inverter e ser anulada. Os efeitos da crise mundial e sua repercussão no Brasil só chegarão a Ubatuba após o Carnaval, quando as demissões que podem no ocorrer no País forem sentidas de fato. Já ouvi comentários de que há possibilidade de corte de 25% no orçamento municipal, pelo temor de que haja inadimplência muito grande com os impostos, em decorrência dessa crise. Confio no que dizem os analistas independentes, de que a crise é muito feia, sinaliza uma necessidade de mudança de modelo econômico, e que o Brasil está mais preparado para enfrentar esse desafio. Três toques na madeira para afastar a crise do País!!!

Mas independente da crise mundial, essa conta positiva para Ubatuba poderá ser anulada se aceitarmos calados a solução adotada para outra atividade econômica: a exploração do lixo e o início da cobrança de taxa para transbordá-lo de Ubatuba a Tremembé. Com a taxa do lixo, além de exportarmos nosso dinheiro com a compra das mais diversas mercadorias que consumimos (carne, trigo para pão, frios, enlatados, material de higiene e limpeza, hortifrutigranjeiros, etc.), começamos também a pagar (exportar dinheiro) para recolherem os resíduos. Ou seja, dois pagamentos. Para consumir e depois para jogar fora os resíduos. Sem contar que com a temporada também aumenta o lixo devido ao consumo dos turistas e consequentemente aumentará o desembolso de dinheiro para o transbordo.

Enquanto o mundo todo, Brasil inclusive, reduz impostos para enfrentar a crise, em Ubatuba vamos, por imposição ambiental, falta de vontade e/ou incompetência administrativa, passar a exportar essa riqueza e o que é pior: pagando para que seja levada embora daqui. Para se ter uma idéia, o governo federal reduziu o imposto de renda, diminuiu o IPI dos automóveis, desonerou diversos itens comerciais, aumentou o volume de financiamentos, etc. E aqui em Ubatuba? Que estímulo está sendo ofertado pela Prefeitura para combater a crise? TAXA DE LIXO! Com exportação de dinheiro e de riquezas.

Ubatuba é uma cidade em crise econômica há tempos, e nessa questão está agindo com descaso, sendo perdulária com seu dinheiro. Como dizem os mais velhos: o dinheiro não aceita desaforos e cobra seu valor. Agimos, ao aceitar pagar para o transbordo do lixo, como a cidade rica que não somos. Cidade que paga para jogar seus problemas por baixo do tapete, pois é isso que acontece. Não queremos ver nosso lixo, ignoramos sua riqueza e transferimos o problema para outra cidade, pagando com um dinheiro que nos fará falta. Seria cômico e cômodo se não fosse trágico.

Lixo é riqueza. Os mais diferentes estudos mostram o potencial de reciclagem e reaproveitamento dos materiais que compõem o lixo. E mostram também seu potencial de fazer inclusão social, reeducação do consumo, educação ambiental, mudança de hábitos, etc. Tratar adequadamente do destino e aproveitamento do lixo é medida de defesa da cidade e de sua economia.

O transbordo é mentiroso quando seus defensores o tratam como ecologicamente correto e única solução. E a poluição decorrente da queima do combustível para seu transporte, o gasto dos pneus, o potencial de acidentes com derramamento desse lixo, entre outras perguntas? A globalização econômica, as mudanças climáticas e seu potencial devastador estão mostrando a todos que a terra é a nossa única e grande casa e todos somos irmãos. Pobres e ricos. Brancos, negros, amarelos, mestiços, índios. Homens, mulheres, crianças e idosos. Ocidentais e orientais. Cristãos, muçulmanos, judeus, hindus, budistas, xintoístas, espíritas, etc. Sendo assim, transbordar o lixo é desrespeitar a terra enquanto nossa casa e desrespeitar as cidades receptoras enquanto nossas irmãs.

O transbordo do lixo não tem compromisso com a cidade e por isso só pode ser defendido por quem também não possui compromisso com Ubatuba. A atitude correta, que deveria ser cobrada inclusive pela CETESB e pela lei, seria a de que cada município desse o tratamento correto aos seus resíduos, com tratamento técnico da questão, visão econômica do potencial, compromisso ético com a inclusão social e a distribuição de renda. Há conhecimento teórico e experiências práticas para isso ser feito aqui em Ubatuba ou em qualquer lugar. Por essa visão, prefeitos e agentes políticos colocariam seus cargos e seus bens em risco se não forem ecologicamente corretos no tratamento dos resíduos em seus municípios. Essa parte da lei englobaria também o saneamento básico e o fornecimento de água potável.

Em minha opinião, projetos pessoais inexistem se não forem precedidos de projetos de civilização e de convivência. Projeto de um mundo melhor e mais igual, de um País justo e humano, de uma cidade acolhedora e fraterna, de cidadãos que pensem e atuem coletivamente, justificando assim seus projetos pessoais.

Sendo assim, você leitor, amigo, companheiro de luta, irmão da família dos “terráqueos” está convidado a participar dessa discussão. Exerça seu direito como contribuinte e cumpra seu dever como cidadão.

Hoje é uma excelente oportunidade para isso. Dentro do contexto da realização do Fórum Social Mundial e enfocando nosso problema, vamos discutir a questão do transbordo na câmara municipal, às 19hs. Estão confirmadas as presenças da CETESB, das entidades ambientalistas, do grupo “Ubatuba em Rede” e de diversas outras entidades e autoridades no assunto. Venha, sua presença é muito importante e sua opinião mais ainda.

Fica o convite, com a pergunta “TRANSBORDO: PROBLEMA OU SOLUÇÃO”. Espero ver e conversar contigo no evento.

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