Rui Grilo
O Espaço Cultural Pés no Chão fechou o seminário sobre o aquecimento global com uma performance em que a Terra, como um cachorro maltratado , sacode violentamente todo o corpo para eliminar as pulgas que o importunam. As performances do grupo entre as várias mesas, serviram para realçar, destacar ou exemplificar os vários temas tratados. Ao mesmo tempo serviram para convocar os diversos expositores ao palco, quebrando a formalidade, tornando o evento mais leve e menos tenso.
O evento, realizado no Teatro de São Sebastião, nos dias 20 e 21/03, organizado pelo CEDS- Centro de Experimentação para o Desenvolvimento da Sustentabilidade e o COMDIAL –Comitê de Diálogo para a Sustentabilidade, formado pela Universidade Católica de Santos, pela REALNORTE - coletivo de entidades ambientalistas e Petrobras, contou com uma expressiva participação dos quatro municípios.
Teve como objetivo esclarecer a sociedade e os tomadores de decisão sobre os problemas oriundos do aquecimento global e as possíveis ações de mitigação e de adaptação para o Litoral Norte em relação às diversas atividades econômicas da região, principalmente nas atividades da Petrobras, do porto de São Sebastião e ao trânsito e ocupação da região. Também, colher informações do Governo Estadual sobre suas estratégias de ação e de enfrentamento para estas questões, bem como fomentar o comprometimento das Prefeituras no sentido de elaborar e implantar Planos Municipais de Mudanças Climáticas. Para isso, contou com a participação de vários pesquisadores, educadores e executivos de várias empresas.
Segundo o pesquisador Carlos Nobre, do INPE, a elevação do nível do mar é irreversível, cabendo a todos nós a tomada de decisão para medidas que visam a mitigar (reduzir) ou se adaptar às novas condições do clima e suas conseqüências. Durante o evento, foram projetadas imagens de algumas praias que já apresentam alterações visíveis, com o avanço do mar sobre a terra, como no caso da Barra Seca e de Massaguaçu; ou do assoreamento do mar e aumento da faixa de areia. As mudanças são tão acentuadas que deverão provocar sensíveis alterações na revisão do Gerenciamento Costeiro – GERCO – que deverá ocorrer neste ano e que também terá reflexos na Lei de Uso e Ocupação do Solo – LUOS.
Um dado interessante é que as porcentagens de emissões dos gases formadores do efeito estufa se inverteram: enquanto na década de 80, mais de 90% eram ocasionadas pelas indústrias, hoje elas são causadas pelo desmatamento, queimadas e atividades agropastoris. Um exemplo apresentado, foram as intervenções realizadas na região de Cubatão para conter a erosão, o desmatamento e os riscos à população.
Foram apresentadas algumas experiências de implantação de ciclovias, mas um dos pesquisadores presentes ressaltou que essas ações são mais relevantes para a melhoria da qualidade da saúde, da sociabilidade e humanização da cidade do que para mitigar o efeito estufa.
Segundo esse pesquisador, com a expulsão de Adão e Eva do paraíso, o homem se viu obrigado a trabalhar e a necessitar de energia. Para tornar a sua vida agradável e reduzir o seu trabalho, cada vez mais o homem recorre à natureza para produzir energia, a qual tem que ser constante, de baixo custo e a sua disposição. Toda ação humana interfere na natureza e sempre há uma relação entre custo e benefício.
Também foram destacadas: a necessidade de um inventário das vulnerabilidades, indicando as áreas e populações prejudicadas, e a necessidade de um plano de prevenção de defesa civil de caráter municipal, regional e estadual.
O pesquisador Kenitiro Suguio, do Instituto Geológico da Usp, apresentou um ponto de vista diferente, mostrando que as mudanças climáticas já ocorriam há milhões de anos atrás. O que torna preocupante é a intensidade e a freqüência que vem ocorrendo nos últimos anos.
No final do encontro foi entregue aos representantes das Prefeituras de Ubatuba e São Sebastião um “Protocolo de Intenções em prol da Adaptação e Mitigação aos efeitos das Mudanças Climáticas no litoral norte de São Paulo”, o qual deverá ser assinado em uma sessão solene organizada para esse fim.
Embora, sem a presença de Ilhabela e Caraguatatuba, cada vez mais o Litoral Norte vai se unindo para encontrar soluções conjuntas.
Como o seminário foi muito denso, com muitas informações que não são de minha área de formação, procurei fazer um resumo dos aspectos que mais me chamaram a atenção.
Rui Grilo
ragrilo@terra.com.br
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