domingo, 16 de novembro de 2008

SEMANA DA CONSCIÊNCIA NEGRA

POLÍTICA DE COTAS

Você é a favor ou contra?

Há discriminação racial em Ubatuba? Como ela se manifesta?

Quais os mecanismos para que a igualdade e a fraternidade existam de fato?

Estas questões serviram para abrir a discussão do debate realizado pelo Coletivo do PT Contra a Discriminação e o Racismo.

A tônica geral era o desejo que não fosse necessário ainda haver esse tipo de comemoração. Isso só acontece porque ainda é muito forte a discriminação, não só contra o negro, mas também contra o índio, o pobre e a mulher.

O professor Carlos Bruno, da Escola Áurea Rachou do Sertão da Quina, lembrou uma afirmação de Nelson Mandela: ninguém nasce odiando; é preciso aprender a odiar. E também é preciso aprender a amar. Fez um apanhado histórico mostrando como a dignidade do negro foi sendo subtraída e como a fala do branco foi sendo introjetada no negro de tal forma que este perdesse a coragem de assumir-se como tal porque ser negro representa tudo que é negativo: "a coisa tá preta", "ovelha negra", vagabundo como um negro...

O projeto da nação brasileira foi construído sobre o racismo, a exploração da mão de obra e a exclusão social. Forçado pelos ingleses que queriam ampliar o mercado consumidor, a "libertação" se deu gradativamente para inglês ver porque poucos negros chegavam a idade de 60 anos para serem libertos pela lei dos sexagenários. A Lei Áurea tirou os grilhões que os prendiam mas jogou-os à própria sorte. Antes, para trabalharem eram alimentados e tinham um teto para se abrigar; libertos, foram substituídos pelos imigrantes, ficando sem trabalho e sem lugar para sobreviver, ocupando até hoje os piores lugares das periferias e os serviços mais penosos e com os menores salários. O incentivo à vinda de imigrantes foi uma tentativa de embranquecimento do povo brasileiro, como se o negro fosse um ser inferior. Se tudo lhe foi tirado, não dá para exigir que seu desempenho seja o mesmo. Primeiro é preciso reparar os danos que lhes causaram proporcionando o acesso a tudo que lhes foram negado. Daí a necessidade da política de cotas. Não dá para tratar como iguais aqueles que não tiveram oportunidade e que tiveram seus direitos negados.

O sr. Ernesto, participante do movimento umbandista, se referiu à discriminação que as pessoas sofrem, na forma como são tratados e ridicularizados, dificultando o acesso a empregos, a financiamentos. Para não serem discriminados, são obrigados a não usarem correntinhas ou símbolos que os identifiquem com práticas religiosas e culturais de origem africana. Foi lembrado que tanto a capoeira como os ritmos de origem africana foram muito perseguidos até o período de Getúlio Vargas.

Seu Antonio, liderança do Quilombo da Caçandoca, se referiu a grande luta pelo reconhecimento das terras quilombolas e as dificuldades que até hoje encontram para usarem efetivamente o dinheiro liberado para a construção de moradias para os quilombolas. Citou a recente destruição criminosa de uma grande área de palmito jussara que iria ser aproveitado para a produção de polpa, que geraria renda e trabalho para um número significativo de quilombolas. Também relembrou a participação em vários encontros em Brasília, onde mulheres negras e indígenas estabeleceram parceria para a defesa de seus direitos.

Analisando o retrocesso do resultado eleitoral, em que nenhuma mulher foi eleita e o fato de todas terem baixo índice de votação, a Nalva ressaltou a necessidade de fortalecimento da autoestima da mulher e de geração de renda.

O Amadeu, estudante do Deolindo, apontou a necessidade de nos olharmos como iguais, recuperando nossa humanidade e questionando os valores do capitalismo, onde as pessoas se fecham em seu individualismo, ligando o ar condicionado e fechando os vidros com insulfilm para não ver os pedintes e para não ouvir os gritos dos pobres.

A Naídes, representando o Sindicato Rural comentou a situação mundial em que o neocapitalismo sempre teve como um dos pilares a não ingerência do Estado na economia, teve que pedir arrego para salvar da bancarrota os ricos que sempre ganharam explorando os pobres. Foi como se fosse a Queda do Muro de Berlim do capitalismo. E espera que não sejam os pobres a pagar o pato, como sempre.

Relembrando o período eleitoral, a Naídes reforçou a necessidade da sociedade civil elaborar propostas e cobrar dos governantes uma posição. Entre os oito pontos apresentados aos prefeitos do Litoral Norte, o prefeito eleito de Caraguatatuba se comprometeu a incentivar e apoiar os pequenos produtores através da formação do banco de terras disponíveis.

Também foi lembrado que, apesar dos avanços trazidos pelo recente plano diretor, a discussão sobre a função social da terra, criação do banco de terras e instalação do Conselho Municipal de Habitação foram escamoteados. E sem a instalação desse conselho, não há possibilidade do município captar fundos para a construção de moradias dignas, especialmente para aqueles que moram em áreas de risco. E não ter um teto decente é uma das piores formas de exclusão social.

No encerramento foi ressaltada a importância da participação na palestra "A experiência de uma organização no aprimoramento da cidadania", que irá acontecer dia 18 às 19 h no Salão da Igreja São Francisco, na Rua Thomaz Galhardo.

Rui Grilo - ragrilo@terra.com.br

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