domingo, 31 de agosto de 2008

ANÁLISE DO IDEB 2007


É por meio do Ideb – Índice de Desenvolvimento do Ensino Básico - que o MEC monitora as metas de melhoria da qualidade estipuladas até 2022. O objetivo é chegar às médias dos países desenvolvidos, 6 pontos na quarta série, 5,5 na oitava e 5,2 no ensino médio. Em 2005, a média nacional foi 3,8 pontos na 4ª série. Os dados de 2007, publicados recentemente dão como médias nacionais, 4,2 na 4ª série, 3,8 na 8ª e 3,5 no final do ensino médio.

Um amigo me pediu que fizesse a análise do IDEB 2007. Achei que não daria devido ao escasso tempo. No entanto, a internet e a decisão política de disponibilizar os dados garantindo a transparência agilizou o processo. Mas não foi fácil porque era necessário encontrar várias tabelas e comparar os dados. O que permitiu a análise, ainda que parcial, foi a minha experiência de vida.

Sou professor desde 1971, mas, além do trabalho em sala de aula em todas as séries do fundamental, passei por algumas experiências que me ajudam muito a ter um olhar crítico sobre o processo educativo, entre as quais incluo :

a) O trabalho na Fundação do Livro Escolar, durante o Governo Montoro, onde fui presidente do Comitê de Alfabetização que analisou as principais obras didáticas usadas no Estado de São Paulo ;

b) a participação nas várias equipes técnicas do município de São Paulo, na gestão do professor Paulo Freire e Mario Sérgio Cortella – (formação de professores alfabetizadores e encarregados de sala de leitura, movimento de reorientação curricular, defesa civil);

c) Mestrado em Didática na Faculdade de Educação da USP.

Em 12/06/08, a Folha de São Paulo publicou a seguinte análise: “O aumento das médias dos alunos, especialmente em matemática, e a diminuição da reprovação fizeram com que, de 2005 para 2007, o país melhorasse os indicadores de qualidade da educação. O avanço foi mais visível no ensino fundamental. No ensino médio, praticamente não houve melhoria.


Os novos dados a respeito da qualidade da educação brasileira foram apresentados ontem pelo MEC (Ministério da Educação) em Brasília na divulgação do Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Brasileira). Trata-se de um indicador que leva em conta tanto o aprendizado dos alunos, medido em testes de matemática e português, quanto os percentuais de aprovação.
Numa escala de zero a dez, o ensino fundamental em seus anos iniciais (da primeira à quarta série)
teve nota 4,2 em 2007. Em 2005, a nota fora 3,8. Nos anos finais (quinta a oitava), a alta foi de 3,5 para 3,8. No ensino médio, de 3,4 para 3,5.
Embora tenha comemorado o aumento da nota, ela ainda foi considerada "pior do que regular" pelo ministro da Educação, Fernando Haddad.

Se compararmos os dados de Ubatuba, verificamos que, não houve uma mudança tão significativa nos dados e a pequena elevação não é motivo para comemoração, como bem apontou o ministro da Educação, porque quem elaborou a pesquisa colocou as metas muito próximas do desempenho de 2005

IDEBs observados em 2005, 2007 e Metas para rede Municipal - UBATUBA

Ensino Fundamental

IDEB Observado

Metas Projetadas

2005

2007

2007

2009

2011

2013

2015

2017

2019

2021

Anos Iniciais

4,1

4,3

4,2

4,5

4,9

5,2

5,5

5,7

6,0

6,3

Anos Finais

4,2

4,5

4,2

4,4

4,6

5,0

5,4

5,6

5,9

6,1

Fonte: Prova Brasil e Censo Escolar

porque não acontecem mudanças educacionais a curto prazo. Elas decorrem de um planejamento a médio e longo prazo e o técnico levou isso em consideração. Ainda não dá para dizer com segurança qual o motivo da melhora. Nas escolas, muitos professores alegam que o que foi exigido está muito baixo, daí a melhora.

A análise dos dados de 2005, publicados no site Todos pela Educação mostra que o desempenho dos alunos de 1ª a 4ª séries, que, em geral, está municipalizado, tem sido superior ao das etapas seguintes, de responsabilidade do Governo Estadual, apesar dos professores da 8ª e do nível médio, em sua grande maioria terem nível de formação superior. Uma explicação possível é a maior ênfase à formação continuada dos professores de 1ª a 4ª séries.

Docentes com Curso Superior


Creche

Pré-Escola

Ensino Fundamental I

Ensino Fundamental II

Ensino Médio

BRASIL

29,0%

40,0%

47,7%

83,2%

95,6%

SUDESTE

32,6%

52,7%

58,5%

93,6%

97,8%

SAO PAULO

38,8%

63,6%

72,8%

98,8%

99,9%

UBATUBA

36,7%

56,1%

60,1%

96,5%

99,6%

Fonte: MEC/INEP/DTDIE

outra explicação possível é a quantidade de alunos por classe ser muito maior na rede estadual. Veja o quadro abaixo:

Média de alunos por turma


Creche

Pré-Escola

Ensino Fundamental I

Ensino Fundamental II

Ensino Médio

BRASIL

17,3

21,1

25,7

31,4

36,7

SUDESTE

15,4

20,8

26,8

32,5

36,5

SAO PAULO

14,8

21,8

28,6

33,1

36,4

UBATUBA

13,9

19,4

25,3

33,0

37,1

Fonte: MEC/INEP/DTDIE

Numa situação em que os padrões de disciplina e de autonomia de aprendizagem foram bem desenvolvidos, talvez seja possível trabalhar com turmas maiores. No entanto, a realidade é bem outra, porque hoje fica cada vez mais para a escola a tarefa de formar atitudes e valores, pois o contato entre pais e filhos é cada vez menor. Escolas ou crianças cujos pais tem um maior envolvimento geralmente tem um desempenho melhor.

Nos cursos para adultos e executivos, quando se quer uma mudança considerável de valores e um alto desempenho, as turmas são restritas a 25 participantes. A própria Secretaria de Educação, nas classes de reforço e recuperação, restringe a 25 o número de alunos por turma. Portanto, não há como fazer milagres.

Olhando o quadro abaixo dá para ter uma visão mais realista do desastre da educação.


Qual o percentual de alunos que aprendeu o que era esperado para cada série?


4a. série EF

8a. série EF

3a. série EM


Líng. Port.

Matemática

Líng. Port.

Matemática

Líng. Port.

Matemática

BRASIL

29,1%

20,4%

19,4%

13,0%

22,2%

12,8%

SUDESTE

37,8%

28,0%

23,9%

16,5%

25,8%

15,5%

SAO PAULO

38,0%

26,9%

24,3%

15,1%

25,5%

15,2%

UBATUBA

29,4%

11,7%

13,8%

6,7%

--

--

Fonte: Saeb/Inep

A reformulação da didática do ensino de Língua, baseada em pesquisas científicas e a sua continuidade por mais tempo, centrando-se nas habilidades básicas de leitura e de escrita e não mais no ensino da gramática (baseada na decoreba), começa a dar frutos, embora não seja compreendida por grande parte da população e até por muitos professores. Onde essa transição de enfoque foi acompanhada de formação intensiva dos professores, os resultados foram melhores. O problema não é a progressão continuada mas a falta de acompanhamento dos alunos que apresentavam defasagem, porque esse tipo de didática exige muito mais do professor e do aluno e não dá para ser realizada em salas muito numerosas.

O Índice de Desenvolvimento Municipal (IFDM), criado pela Federação das Indústrias do Rio dce Janeiro - FIRJAN -, divulgado no dia 04/08/08, abrange mais variáveis do que o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da Organização das Nações Unidas (ONU), e que, apesar dos números revelarem as condições de desenvolvimento no ano de 2005, permite uma melhor percepção da situação.. O objetivo do estudo foi para medir anualmente a eficiência de políticas públicas nos municípios. Abaixo, para comparação, apresentamos alguns desses dados:

No Litoral Norte, Ilhabela apresentou o melhor índice na educação (0,9256), depois Caraguatatuba (0,8401); Ubatuba (0,8320) e São Sebastião (0,8272). Por aí se vê que a melhoria da qualidade de vida não depende só da economia mas da competência e das prioridades levadas a sério. S. Sebastião, embora tenha a renda mais alta, está em último lugar na educação.


Ensino Fundamental I

Ensino Fundamental II

Ensino Médio

BRASIL

3,8

3,5

3,4

SUDESTE

4,6

3,9

3,6

SAO PAULO

4,5

3,8

3,3

UBATUBA

4,1

4,2

--

Fonte: MEC/Inep

Como se pode ver, o desempenho de Ubatuba está acima da média nacional, mas, no ensino fundamental, que é de competência do município, está abaixo da média estadual.

Quanto ao que era esperado que o aluno tivesse aprendido, em Língua Portuguesa, no IDEB 2007, o ensino municipal está um pouco acima da média nacional, mas muito abaixo da média da Região Sudeste e do Estado de São Paulo. Em Matemática está pior ainda.

Taxa de reprovação


4ª série (EF)

8ª série (EF)

3ª série (EM)

BRASIL

10,4%

10,9%

7,9%

SUDESTE

8,6%

12,5%

8,9%

SAO PAULO

7,2%

11,6%

9,1%

UBATUBA

7,9%

15,1%

12,4%

Fonte: MEC/Inep/DTDIE

Mesmo com a promoção automática e com o bolsa-família, a taxa de reprovação está mais alta que a média estadual e menor que a média da Região Sudeste e da nacional.

Em alguns municípios, o melhor desempenho no IDEB 2007 foi atribuído ao uso de material do COC. Entretanto, nas pesquisas efetuadas pela Fundação do Livro Escolar, na década de 80, o que ficou claro para a equipe é que o material não tem tanta importância porque havia alunos que tinham bom desempenho mesmo quando os professores usavam livros didáticos ruins e, professores que usavam materiais bons mas seus alunos tinham mau desempenho, o que levou a Fundação a investir na formação dos professores e não nos materiais. Um bom professor pode produzir o seu próprio material e lançar mão de vários recursos.

Analisando a matéria abaixo, chegamos a outras pistas.

“Cerca de 2 mil prefeitos reuniram-se no início da semana em Brasília para a cerimônia de aniversário de um ano do Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE). Muitos deles representavam os 1.242 municípios prioritários, ou seja, aqueles que registraram os piores resultados no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) e ganharam atenção especial nesse primeiro ano do plano. Ainda assim, alguns deles, ao serem questionados sobre o assunto, não sabiam qual era a nota de seu município, muito menos a meta que deve ser atingida a cada dois anos.

A prefeita Francisca Bezerra, de Redenção (CE), avalia o PDE como “muito bom” porque garante verba para os municípios. Ela veio a Brasília assinar convênio com os programas Caminhos da Escola e Proinfância, mas não sabia qual era o Ideb de sua cidade. “Eu não estou sabendo, só sei que estamos entre os melhores”, disse. Redenção registrou um Ideb de 3,2 pontos, abaixo da média nacional.

Maria Auxiliadora Rezende, presidente do Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed), afirma que “infelizmente essa é a realidade”. “Essa discussão é nova, mas o ministro foi em praticamente todos os estados, o PDE e as metas foram apresentadas e muitos municípios já elaboraram o seu PAR [Plano de Ação Articulada]”, destaca.

Justina de Araújo, presidente da União Nacional dos Dirigente Municipais em Educação (Undime), também não se surpreende com o resultado. “A gente que convive com os prefeitos mais de perto não se surpreende com esse tipo de afirmação por parte de alguns deles. Educação, saúde e segurança sempre foram prioridade no Brasil no nível do discurso, mas na prática não tem sido”, aponta.

Para o presidente da Confederação Nacional dos Municípios (CNM), Paulo Ziulkoski, não há surpresa na constatação de que os prefeitos não saibam o valor do Ideb das cidades onde são os principais representantes e que não saibam o que significa Ideb ou "outras siglas criadas em Brasília".

Segundo ele, falta discussão com os gestores no momento da criação de planos e de políticas públicas. "Não há respeito federativo. Não há debate com os principais interessados. As políticas são criadas e despejadas por todo o Brasil que possui municípios com os mais diferentes perfis[...] além do governo, é preciso que a sociedade civil também cumpra seu papel. "A sociedade brasileira é omissa. Não há debate",

Fonte:www.agenciabrasil.gov.br

Rui Alves Grilo

Professor aposentado da Rede Municipal de Ensino de São Paulo e da EE Deolindo de O. Santos - Ubatuba

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